domingo, 15 de março de 2009

Brasil: Mostre a sua fala!

Rafael Cerqueira

Brasil, país de diferentes raças, culturas e etnias. Isso é o que todos afirmam, alguns contemplam, outros discriminam. Porém o que muitos ainda insistem em restringir são as diferentes formas de escrever e falar da população brasileira, de norte a sul do país. Tempo, fenômeno inevitável que modifica tudo, a linguagem não foge desse fator natural e por isso o que é falado hoje certamente se diferencia do que era falado a dois, três séculos atrás.

A linguagem popular, que deveria ser ao menos reconhecida de forma correta e que é na verdade uma grande mistura de outras linguagens oriundas de diversas culturas indígenas, africanas e até mesmo européias é discriminada pela linguagem culta, aceita como padrão e herdada em grande parte dos lusitanos que há algum tempo atrás invadiram e povoaram o Brasil. Por sua vez, a linguagem culta é evitada por grande parte da população, que a vê como uma grande e dificultosa forma de expressão e escrita. O que não deixa de ser verdade, já que é exatamente isso o que é imposto para sociedade.

É incabível aceitar o fato de uma nação que possui tantos analfabetos ter ao mesmo tempo uma língua tão regrada e padronizadamente cansativa. Para que tantas regras se muitas delas nem chegam a ser usadas no dia-a-dia dos brasileiros. O povo usa a linguagem que acha mais acessível e por que não, mais correta. E se é essa a linguagem que o povo usa é porque foi essa a linguagem que o povo aprendeu a usar. E não a nada mais comum do que botar em prática o que se aprende, seja numa cadeira, dentro da sala de aula, seja na vida.

Um dos diferenciais do Brasil é justamente a variedade lingüística encontrada de região para região, de estado para estado. Para que discriminar isso? Os baianos falam “oxe”, os mineiros falam “uai”, os gaúchos falam “bá”, mas todo mundo fala a mesma coisa, com o mesmo significado e isso não impede que haja entendimento lingüístico entre ambas as regiões e populações. E é aí que esta a graça da linguagem brasileira, diferente, porém igual.

Nada como um bom toque de Brasil para entendermos as coisas, ou pelo menos achar que entendemos. Costumes, povos, línguas e culturas diferentes. Costumes, povos, línguas e culturas iguais. Um país de países em que realidades tão diferentes e distantes se contrapõem. Muitos sofrem enquanto um se alegra. Nossa língua é um retrato do Brasil, enquanto a maioria fala, a minoria decide o que deve ser falado. Enquanto a maioria luta, a minoria manda no que deve ser lutado.

sábado, 14 de março de 2009

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...