sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Os passos de um futuro pensador

Rafael Cerqueira de Souza

Tudo começou numa certo dia ali atrás como diria Diblaim. Coisas novas que iriam surgir ou empecilhos antigos que iriam começar a desaparecer. Nada sabia, afinal tudo era novo. Cada dia um surpresa desafiadora. Todo dia uma barreira a ser vencida. Fases e fases que foram passando sem me dar conta de tudo o que estava ocorrendo. Fase do encanto, fase da satisfação, fase do medo, fase da decepção, fase da angústia, fase do orgulho, fase da preguiça, enfim, fases.

Bastava um pequeno erro, e o pensamento logo surgia: “O quê que eu vim fazer aqui”. Porém, como muitos dizem, nada como um dia após o outro. E parece que isso é mesmo verdade. Além disso, penso eu, só errando que se consegue aprender. E assim tudo foi melhorando. Mas como nada é perfeito, sempre tem que ter um “pequeno” detalhe para atrapalhar. Uma tal de física vivia complicando a minha vida. Seguindo em frente, não podia desanimar, apesar de não terem faltado motivos para que isso acontecesse.

Evolução, como definir essa palavra tão curta em tamanho, mas tão grande em significado para a própria vida humana. Basta olhar ao redor de mim mesmo para perceber o quanto evoluí durante esses quase dez meses de aula. Dez meses de português, ou melhor, linguagem. Linguagem essa que não servia apenas para a tão famosa gramática, a mais apreciada entre os “chefes” da extensão de minha própria casa. Mas a linguagem da vida, a que nos faz pensar o mundo através dos recursos que foram oferecidos durante as aulas. Livros, filmes, teatros, recitais, enfim. Várias e várias séries de preciosidades que só fizeram acrescentar positivamente o nosso saber. O saber de verdade. O saber negro, o saber branco, o entender branco, o entender negro. Que nada mais eram que um saber só, um saber único e poderoso.

Jamais em meus 15 anos de vida, pude presenciar momentos tão produtivos. Várias pessoas, vários pensamentos, várias vidas. Enfim, um só aprendizado. Uns souberam aproveitar melhor, outros nem tanto. Mas todos, sem exceções, puderam sentir pelo menos uma vez, o prazer do saber, do poder, do querer, do realizar. Muitos tentaram atrapalhar, mais nossa vontade foi mais forte. Independente de termos ganhado ou perdido, o mais importante é que tentamos plantar a primeira semente de muitas que virão a surgir naquele colégio público, que para algumas pedras no meio do caminho podia até se passar por particular. Mas “ingênuas” e “medíocres” as mentes dos que ainda acreditam nesta fatídica idéia vazia. Uma frase de Che me faz refletir sobre isso: os poderosos podem matar uma, duas, três flores, mas jamais deterão a primavera. Não que essas pedras sejam criminosas.

A questão negra nunca foi pensada antes por mim. Percebi nesse ano, já bem tardiamente, o quanto eu sou negro. O quanto todos os brasileiros são negros. Somos negros, somos brancos, somos índios, somos uma raça única e exemplar entre a humanidade. Uma mistura de povos que deu origem a essa tão rara e especial raça brasileira. Raça da alegria, raça do carnaval, raça da desigualdade, raça do futebol. Enfim, títulos não faltam para o “País do Futuro”. E assim, vamos levando a vida, bem do “jeitinho brasileiro”, aquele único e especial. Comum tanto aos pobres quanto aos ricos.
O ano mais uma vez está acabando, e com ele uma série de outras coisas estão indo juntos. Coisas que serão esquecidas e coisas que serão guardadas para sempre. Os esforços feitos valeram à pena, os “micos” pagos valeram mais ainda. A convivência entre os alunos de diferentes salas foi uma experiência singular. Todos com seu jeito de ser. Alguns que adoro, outros que não gosto, alguns que admiro, outros que invejo, alguns que respeito, outros que desprezo. Mas ambos com uma só condição. Todos estudantes a procura do saber, da cultura, do ouvir, do falar e do fazer.

Um ano novo virá, um novo professor chegará. Um novo Alexandre quem sabe. Não era esse o planejado, mas se aconteceu o respeito prevalecerá. O mais importante já adquirimos. Já sabemos o valor da cultura, da aprendizagem, não aquela que se obtém trancafiado numa sala de aula apenas, mas aquela que se tem em uma simples peça de teatro ou seção de cinema. O mundo da critica produtiva se abriu para mim, assim como o mundo da própria linguagem como um todo. Ainda estou só no começo da trilha, mas se tudo ocorrer como planejo, logo me tornarei um pleno pensador.

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