quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Pequenas visões do mundo atual: Do essencial ao dispensável

Rafael Cerqueira

Hoje elas estão em toda parte. Desde os grandes centros urbanos até as pequenas cidades do interior. De todos os modelos e tamanhos possíveis até então, as câmeras conseguem registrar imagens e vídeos dos mais inusitados. Porém o maior motivo para a tão “popular” aquisição dessas pequenas e poderosas “máquinas modernas” continua sendo a segurança. Seja da população (das classes mais favorecidas), em suas casas, ou dos grandes estabelecimentos e empresas.

É impossível não reconhecer que essas câmeras são muito úteis quanto à questão da segurança, como forma de evitar um ato punível ou facilitar o reconhecimento dos que cometeram esse mesmo ato. Mas é mais impossível ainda não mencionar a restrição de privacidade que as mesmas causam a população. Para agravar essa falta de privacidade gerada, as câmeras contam nos “tempos modernos” com a incomparável ajuda da internet como meio de auto-divulgação simultânea dos arquivos obtidos.

Endereços da web já muito populares entre os usuários são pontos certos de entretenimento. O youtube, site de divulgação de vídeos é hoje talvez o mais usado para tal atividade. Isso não significa que tudo o que é postado lá é benéfico para os usuários. Materiais muitas vezes proibidos circulam livremente pela página com a maior facilidade. Outro grande exemplo dessa falta de privacidade atual é o Orkut. Supostamente uma página de encontro entre internautas que buscam compartilhar um pouco de suas vidas com os demais. Fotos, vídeos e informações pessoais, muitas vezes desnecessárias de serem postadas, são trocadas diariamente entre os milhões de pessoas pelo mundo que são adeptas desse tipo atividade virtual. Além desses, muitos são os outros exemplos cabíveis a esse tema.

Todos esse eventos acontecem, no caso específico do Brasil, devido a um certo despreparo do governo brasileiro em lhe dar com um meio relativamente novo a vida de seus habitantes(isso não significa que só o Brasil está sujeito a isso). Leis ainda que necessárias não funcionam quando não são cumpridas corretamente pelos que deveriam segui-las. Leis que funcionam, mas que são pouco eficientes no combate a certos tipos de infrações virtuais ou leis que deveriam, mas não foram propostas e estabelecidas pelo governo também não ajudam em praticamente nada no controle da falta de privacidade observada nesses meios virtuais.

Ao falar em entretenimento e exposição é quase impossível não citar o reality global “Big Brother Brasil” que mostra o cotidiano de um pequeno grupo de pessoas até então desconhecidas que passam a viver em uma casa tendo que dividir um mesmo teto. Ao saber da alta audiência que esse tipo de programa proporciona, as grandes emissoras de TV cultivam essa programação por longos períodos. Tudo não passa, porém de um grande circo de exposições montado para causar uma espécie de alívio aos telespectadores que ao verem esses realities passam a ter a oportunidade de se divertirem com os problemas, deveres e diversões dos outros, sabendo que muitas outras pessoas estão fazendo a mesma coisa no mesmo momento.

Voltando ao assunto “câmeras” de uma forma mais direta, é interessante citar a “vida teatral” que uma pequena peça pode proporcionar ao observado. Muitas pessoas se sentem acuadas ao perceberem uma câmera na rua ou em algum estabelecimento e passam a agir de uma forma contrária a anterior. Isso pode ser interpretado até mesmo como uma autodefesa da população perante um objeto que pode vir a causar alguma inconveniência a alguém em determinado momento.

Independente de câmeras ou não, sabe-se que a vida nos dias atuais é observada constantemente pelo próprio sistema produtivo. Sistema esse que controla o mundo sem nem mesmo observá-lo direta e necessariamente por câmeras. O incremento destas serve muito mais como forma de manutenção desses e de outros sistemas incrementados no cotidiano da população mundial diariamente.

Enfim, antes de analisar os efeitos positivos e negativos das câmeras, dos programas ou páginas de convivência na web é preciso ter noção de que o próprio homem ou mulher do século XXI tem a necessidade de se expor ou ver alguma exposição do outro, além de estarem “seguros de sua própria segurança” e bem-estar social. Além disso, basta saber que tudo o que é criado na perspectiva de garantir a segurança ou o bem-estar social citados acima se baseia na insatisfação e insegurança humana quanto a sua condição, visando sempre o “melhoramento” do já existente. Isso pode sim ser bom, mas por outro lado pode causar um ciclo vicioso de destruição e esquecimento do necessário para a criação e supervalorização do dispensável que passa a se tornar mascaradamente essencial.

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